quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não sei viver. Sou demasiada coração, e demasiada mente. Não sei equilibrar. Sou toda instantes. Hora sou calma, hora sou uma leoa. Hora levo tudo na esportiva, daqui a pouco não brinquem comigo. Uma metamorfose ambulante em um corpo meio (totalmente) desastroso. Opinião é uma coisa que corre sério risco de mudança. Acho isso bom e isso ruim. Aliás, N-A-D-A na vida é inteiramente bom ou inteiramente ruim. Visões de mundo são passíveis de dois lados. Por isso não julgo. Não julgo se fulana deu no primeiro dia que conheceu um cara, e nem julgo a amiga que quer casar virgem. Não julgo o drogado e não julgo o careta. Entendo perfeitamente cada pessoa. Posso não concordar, mas entendo. Quem é que pode saber o que se passa na mente da pessoa naquele exato momento? Só ele, e nem isso, as vezes. Seres humanos podem ser movidos pelo momento. Isso é bom e também ruim. Não é legal não se ter olhar crítico sobre a vida, mas quem quer viver corretamente o tempo todo? Os "quandos" da vida quebram a rotina. Os "quandos" nos aproximam da vida. Eles permitem que se enxergue tudo como quando se usa um binóculos: bem de pertinho, aproveitando tudo o que cada instante oferece. Atrevo-me a dizer que os momentos nos dão vida. Você pode ser o que quiser em cada momento, assim se consegue ampliar a visão: posso ser um hippie e pensar como um; um roqueiro e agir como um. A vida não permite ensaios. Mas os instantes - alguns - nos preparam para uma grande peça teatral. Cada momento nos oferece um aprendizado diferente. Você pode ser um pássaro e aprender a importância de voar, de ser livre. Quando pedra, pode apreciar a beleza do silêncio. Sendo um mar, aprende que tudo vai e volta, por isso não se pode cuspir para cima: pode cair em você.

terça-feira, 17 de abril de 2012


A hora mais feliz era a hora em que tocava o sino. Saíamos correndo direto para a cozinha, com roupa rasgada e cheia de lama, mas com as mãos limpas. Comíamos até dizer "chega, tô de rabo cheio", e de lá íamos para nosso reino. Nosso reino de terra, nosso reino com um cheiro de marrom. Nosso reino era nosso, e adulto nenhum podia interferir. Se eu quisesse que a pá fosse um trator, ela seria. Ninguém meteria a fuça na minha imaginação. Se eu quisesse que aquele morrinho fosse meu castelo, ele seria. Seria, seria, seria. É. Aquele graveto era uma cobra horrenda, da qual o príncipe viria me salvar. O sapo era o chão que pulava, a formiguinha era nossa amora, com duas bundinhas redondas e mega saborosas. Era tudo muito doce. Nossa brincadeira tinha gosto de açúcar, era uma delícia. Mas foi só completar algumas velas a mais no bolo que foi perdendo a graça. Foi ficando tosca, coisa de criancinha. "Não posso me sujar, sou uma mocinha". A ortografia foi ficando correta, e a imaginação foi entortando. Razão foi introduzida no mundo. Antes era fantasia. Fantasias verdadeiras. Razões são mentirosas, nossos sentidos nos enganam. Queria mesmo voltar a escutar a cor dos pássaros. Ver o cocoró das galinhas. Queria descrescer. Cada momento era único, cada momento fazia de mim uma coisa diferente. Digo coisa porque eu podia mesmo ser uma privada. Podia ser um guarda-roupa, uma poltrona, uma televisão. Eu era coisas. E todas eram eu, todas eram humanizadas. Eu era livre. O mais gostoso era brincar de inventar, de contar, de fantasiar. Teve até um dia que aquela montanha, aquela atrás da chácara do meu avô, virou um dragão feroz e queria porque queria comer nossos fígados, pois ele tinha perdido o dele em uma batalha com um camaleão gigante, que estava disfarçado de nuvem lá no céu, então ele resolveu comer um de nós pra ter um fígado de volta. Mas graças a Deus conseguimos matar ele, e não foi fácil. Foi o spray de pimenta da Jú que cegou o bicho, e só assim o Bru conseguiu enfiar a faca no coração dele, uma faca que tinha 60 km de comprimento. Ha-ha. Inesquecível esse dia. Num outro dia viramos índios. Em outros já fomos elfos, leões, serpentes, e até Adão e Eva. Mas agora não tem mais graça. Onde foi  será que eu perdi minha imaginação? Quando eu deixei de ouvir as cores e ver a música? Bem que poderia haver um "achados e perdidos" que tenha eu pequenininha lá dentro. Assim eu me pegava e seria um dinossauro, pra amassar todo esse planeta fedido de gente chata e grande demais...

domingo, 15 de abril de 2012

Quem
sabe 
me
dizer
onde 
está
o
pote
da
felicidade
que
me
roubaram?
Não
encontrei
no 
fim
do
arco-íris.
Nem 
o
encontrei
com
os
mapas
de
tesouros
escondidos.
Me 
disseram
que 
ele
está
dentro
de
mim.
Será?
Ops...
Acho
que
estou
sentindo
algo
diferente
por 
aqui [...]
:)



A vida já havia lhe roubado os ânimos há algum tempo. Era tudo igual, sempre a mesma coisa. Aprendeu a não esperar muito das pessoas, mas no fim sempre depositamos muitas expectativas nos outros, né? Sua estima estava depreciável. Como será que ficara assim, nesse estado? Só o que fazia era lembrar era da dor. Dor semelhante à da faca que corta e transpassa. Dor de amor. Dor de saudade. Dor da infelicidade de querer ter e se sentir sem poder. Dor do inferno interior que criou. Das chamas que a consumiam a cada dia mais. Dor da partida, do desencontro. De fato perdera a esperança em si mesma. Estava anestesiada com tanta dor. Tão grande era o sofrimento que quase já não o sentia. O tempo acabou por tornar a tristeza normal. Desde quando se martirizar é normal? Desde que ele partira ficou normal. Sempre foi de superar e sacudir a poeira. Passado é passado. Mas com ele foi diferente. Se entregou demais, sentiu demais, sofreu demais, perdeu demais. Tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão devagar. Muita intensidade pra pouco tempo, pra pouco sentimento alheio. Muita confusão, muito desgaste. Muito corpo, pouca alma. Fugaz. Fuga. De tanto amar, odiou. De tanto acreditar, desesperançou. De tanto querer, afastou. De tanto viver, morreu.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tenho tentado muito, muito, praticar a arte do desapego. Desapego de mim, desapego dos outros, desapego do que é belo e do que é feio, desapego do muito e do pouco. Muitas tentações eu sinto - aquela vontade insuportável de depender de tudo, de se acomodar, de fingir que esse mundo sujo não me afeta. Só quem não tem nada tem tudo. Todos os dias tento acreditar nisso. E é verdade. A liberdade é ser livre desse mundo insano, vulgar, nojento. Liberdade é saber suas limitações. Liberdade é autonomia, embora contenham significações diferentes. Nós sabemos que nem tudo vai ser milimetricamente do jeito que nosso ego egoísta quer. Liberdade não se procura, se vive. Liberdade é um estado de espírito. Ser uma pessoa desapegada não é não precisar de ninguém. Quem nós amamos são pilares de nossa sustentação patética, e querendo ou não, caímos se uma delas cai. O ser humano sempre tem alguém por cima dele. Sempre temos que aturar o poderoso chefão. Sempre prestamos obediência a alguém. E esse alguém presta pra outro alguém. E assim vai... A vida é uma cadeia alimentar. As vezes te come literalmente, mas as vezes come seu interior. Fome come. Te consome. Te devora. Te deixa aos avessos. A liberdade é saber que mesmo estando aos avessos você tem sua essência. Firme e forte, sem sucumbir com as marés afogantes. Seu corpo pode estar morrendo, mas sua alma não pode, não. Porque a morte mais mortífera é a da alma. A cultura hipócrita deste nosso século nos prega um apego ao que é externo, ao material, e nada disso nos completa. Sempre sentimos aquele vazio de merda que nos tira as forças e te força a ficar no chão, largado aos sete ventos e pedindo para que pisem em você, para que te afundem pro núcleo da terra, fazendo de você um cocozinho. Assim ninguém lembra de você. Você = merda, merda = nada. Ninguém lembra de "nada", certo? Por isso acredito que se deve praticar a arte do desapego de si mesmo. Quanto mais se é desapegado, mais se tem, mais se sabe, mais se tem prazer. A alma é o negócio. A alma é a ponte que nos liga ao eterno, ao mistério da vida, ao mistério de que a vida talvez não seja vida. E vai ver a vida pode pifar, e aí você precisa estar abraçadinho com a alma. Espero que você tenha partido bem, abraçadinho com a sua alma...


                                          Ao meu tio, que deixará saudades [...]

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Resolvi começar por mudar meu interior, não para ele parar de reclamar, mas para eu mesma começar a entender esse desassossego de alma. "Sou duas, e ambas têm distância - irmãs siamesas que não estão pegadas". Não escuto as pessoas como deveria, nem obedeço meus pais tanto quanto queria. Não sou o tipo de pessoa que se entrega, mas por outro lado, posso me dar inteira. Nunca me entendi realmente. Essa dualidade sufoca, esse excesso de geminialidade. Não é proposital, é a carga do dia que determina. É fantasmagórico e dramático, mas também é sensível e fútil. "Tudo me interessa e nada me prende". Tenho muito o que falar, mas ao mesmo tempo não quero emitir som algum. Fico no campo do pensamento. Penso porque o instante existe, e quem sabe o infinito também. Estresso-me facilmente, mas posso ter uma paciência angelical. Ambas as siamesas estão distantes, de fato. Mas estão lá, compartilhando e sugando a vitalidade da mesma alma, do mesmo corpo. Peço pouco à vida e ao mesmo tempo tudo. Não é difícil meu nada ser tudo. É relativismo em tudo que vejo. Não gosto e não quero. Mas preciso e suplico. Talvez nada faça sentido, talvez seja tudo um sonho. Mas meus espectadores que vivem aqui dentro gostam desse agito, e buscam estagnação ao mesmo tempo. Acho que nada disso faz sentido. Coesão não é uma palavra que delineia meu senso. Está tudo meio jogado, vulgarmente, aqui dentro. E lá fora também. Talvez seja ilusão crer na humanidade, e não crer nela também é estupidez. A vida se encarrega de encaminhar as pendências adquiridas. Nossa estadia aqui, nessa terra, resume-se em "procurar sentir o tédio de modo que ele não doa". Sinto minha alma através de toda confusão. Sim, tudo fica puro, um dia, no escuro do mundo...

domingo, 1 de abril de 2012

Tenho andando com muita dor de cabeça, com um stress que não me cabe. Tento botar as palavras pra fora mas elas não saem. Vivo presa dentro de mim. Tenho que ser o que eles querem. Falar o que cai bem para seus ouvidos. Agir conforme suas noções e ideais. Os meus ideais pouco lhes importam. Minha liberdade, meu sufoco e minha angústia não valem de nada. O que eles querem é saber que eu cumpro meus deveres sem dramatizações. Maldito sistema! Dane-se se você faz algo por obrigação. Dane-se se você está morto por dentro. Dane-se, dane-se. Você não faz nada certo, nunca. "Se eu fosse você mudaria esse seu jeito. Ninguém aguenta tanto tempo com uma pessoa tão imatura." Retrucar não adianta. Então, dia após dia, minha voz desce goela abaixo. Passei a escutar. Deixar que entre por um ouvido e saia pelo outro. Não se agrada todo mundo certo?  Parei de tentar abraçar o mundo, sei que se eu fizer isso quem vai me abraçar é ele. Aos idiotas o meu silêncio. Fato. Deixe que falem. No final das contas é você consigo mesmo. Ninguém me conhece mais do que eu mesma. Tenho noções das minha imperfeições, que são muitas. Mas sei que também trago em mim positividades. Então favor parar de exigir que eu seja quem não sou. Um dia vou ficar cansada de ouvir. E aí pode ser tarde demais para eu tentar ter uma relação saudável com vocês.