sexta-feira, 13 de março de 2015


Colocou o cabelo para trás da orelha e enxugou as lágrimas. Acendeu um cigarro e aumentou um pouco mais o volume da música. Olhou, desolada, para a janela. Em um mundo tão extraordinário, qual é a razão para conhecermos pessoas tão inspiradoras e logo depois sermos forçados a dizer adeus? Somos obrigados a abandonar quem queríamos cultivar. Somos obrigados a ir embora - não há nada sem separação - já dizia o poeta. Chegadas, partidas. Mais um trago, por favor. Em um mundo feito de despedidas, feliz é quem sabe seguir adiante naturalmente. Mas ela não sabia: sempre colocou sentimento demais, emoção demais, vida demais. Ta aí: acho que viver demais ás vezes gera uma confusão nisso tudo. Se entregar tem seu preço, abrir os braços aos momentos tem seu preço. Não é barato, e sua cotação continua a subir... E subindo vai até que o tempo passe. O tempo é rei, né? Daqui um ou dois meses olhará pra trás e não haverá sofrimentos. Olhará pra trás e fingirá que nada aconteceu, que foi tudo (outra vez) ilusão. E assim seguirá. Quebrará a cara outra vez, sofrerá, passará. Cair, levantar, seguir. Cair, levantar, seguir. Lei da vida. Lei de ação e reação. Tudo que sobe, desce. Vivemos demais, sentimos demais? Uma hora sentiremos de menos. Estamos rindo? Uma hora choraremos. E ao contrário. Nada é, tudo está. Isso não é de todo ruim. Para valorizar o sorriso, precisa-se das lágrimas. Para valorizar a saúde, precisa-se da doença. O mal faz parte da vida - e compõe um pedaço importante desta. Mais um trago, por favor. Um dia se ama, um dia se é amado. Será possível esses dois marcos em uma mesma história? Ela o amando, e ele amando-a? Outro trago. Pulmões negros e pensamentos ainda pior. Coração, nem se fala. Cair, levantar, seguir. Qual o problema, então, se isso um dia será apenas cinzas? É que ela sempre ansiou por mais. Ou estava sendo - mais uma vez - ingênua ou a vida estava de caô. Enquanto puxa outro trago, tenta se responder "por que estou sofrendo se sei que é efêmero?" E na ausência de respostas, a nicotina entra para preencher o vazio...

Hoje morreu um cara em frente ao meu prédio. Eu estava voltando de uma classe quando percebi certo reboliço em frente a porta de entrada. Vi uma mulher chorando desconsoladamente e fiquei intacta na hora. Gente sem ar me deixa sem ar. Mulherzinha que sou, algumas lágrimas também desceram por meu rosto ao ver o sofrimento daquela criatura. Entrei no meu apartamento e fui ver tudo aquilo lá de cima. Vizinhos curiosos, olhares assustados dos transeuntes e eu só conseguia interceder por aquela alma que padecia, em prantos. A vida mexe comigo, e consequente a isso, a morte me atinge lá nas entranhas, todavia. Com esse cenário diante dos meus olhos comecei a questionar - coisa clichê - nossa passagem por esse planeta. Nascemos, nos reproduzimos, morremos. Que grande coisa, não? Sim, é uma grande coisa. Apenas esqueceram de acrescentar que no meio dessas etapas passamos por muitas situações até que estejamos aptos para passar de fase. Demoramos nove meses para nascer. Até sermos capazes de reproduzir mais longos anos enfrentamos. E a morte, bem, a morte é um grande ponto de interrogação. Sócrates achava incomum o temor por detrás da morte, visto que ninguém sabe dizer se está é boa ou ruim. E de fato, a pena recai sobre quem fica, e não pra quem vai (eu acho). E toda aquela cena passou como um filme em minha cabeça. Enquanto  eu observava a polícia, o choro e o desespero, me dei conta de que me importo com coisas muito banais: fulano não me ligou, minha companheira de piso é uma babaca, estou com uns quilos a mais... Porra! Isso não é sofrimento, é desilusão. A vida é uma ilusão, os acontecimentos são uma ilusão, e ademais, nosso sofrer muitas vezes é composto de ilusão. Mas a morte não. Quiçá a morte seja mesmo a resposta pra tudo nessa vida. A morte vem como um tapa na cara, como uma bala perdida e nos dá um beliscão, como se dissesse "desperta, vai viver". Contraditório, eu sei. Assim como tudo nessa vida. Mas são as contradições que respondem às tantas aporias que a vida lança.

quinta-feira, 12 de março de 2015

E se...

A vida é um eterno "e se...". Viver é um ato de coragem que instiga nossos desafios e tomadas de decisões, mas eu não conheço um ser humano que lança o ato e logo em seguida não se reclina para dentro de si e se pergunte: fiz eu a coisa certa? E se tivesse tomado outro caminho? E se tivesse dito não?

O fato é que nós jamais poderemos sequer cogitar o caminho oposto ao da nossa escolha. Nunca, jamais. A cadeia de acontecimentos que gera a vida é densa demais e está fora do nosso poder de compreensão. Bem, pelo menos da minha compreensão. Onde estaria eu agora se tivesse dito não? Quais seriam os pensamentos que estariam sendo abrigados em minha mente e quais sentimentos estariam em minha composição? Mistério. Se eu tivesse me atrasado cinco minutos para meu compromisso de hoje o que seria diferente? Se eu soubesse dizer as palavras certas nas horas certas eu almejaria coisas melhores? Só que, se eu tivesse dito tal coisa, talvez outra cadeia se sucedesse e nada estaria do jeito que está. Passar pela vida é fácil, viver é uma obra mais detalhada que requer certos cuidados. Certa vez, em um filme que vi, a personagem estava demasiada preocupada com seu passado a ponto de deixá-lo tomar conta de seus pensamentos, até que chegou um cara e disse que ela precisava escolher seus pensamentos do mesmo modo que escolhia suas roupas: não é qualquer coisa que pode servir de vestimenta em sua mente. Pense nisso. Sempre que esses fricotes insistem em me dominar penso em quão certeira a vida é. Tudo que tenho é aquilo que preciso: nem mais, nem menos. Observe que isso não significa falta de ambição, pois com certeza tenho também os desejos e impulsos que me cabem agora, assim como meus anseios, e isso me motiva a buscar mais - afinal, só o que está morto não muda. 

Acredito tanto na vida que me apaixono por ela a cada dia. Viver dói, viver caleja, viver muitas vezes se consiste em se arrastar, mas viver é lindo. Você está onde deveria estar, as pessoas que estão contigo aí deveriam estar (valorize-as) e você vai chegar onde deve chegar na hora certa. Acalma esse coração e respira. Acredite na vida, ela não erra...