sábado, 24 de março de 2012

Ela abriu os olhos e viu que já era dia. Tornou a fechá-los, tentando afastar a preguiça. Espreguiçou-se longamente e se entregou ao sono. Ela não queria acordar para a realidade. Não para a SUA realidade. Fez um esforço e se levantou devagarzinho, tomou sua dose diária de coragem misturada com café e foi se arrumar. Olhava-se no espelho e já não se reconhecia. Como tudo virou de cabeça pra baixo tão rápido? Jogou água em seu rosto para despertar, mas apenas seu físico estava vivo. Sua alma estava consumida pelos conflitos internos que passara, sem força alguma para brilhar novamente. Já havia pensando em se matar, mas pela primeira vez na vida, decidiu que ia encarar seus problemas. "Se eu caí, vou me levantar sozinha" - dizia para si mesma todo dia, tentando acreditar que um dia ficaria em pé novamente. Já sabia que o mundo não era justo, tampouco as pessoas que o habitavam. Mas tinha uma fé grande na humanidade. E a mesma fé que lhe dava esperança, derrubava-lhe. Em que acreditar, então? A vida a machucou muito. Mas o que ela fez de tão errado para merecer isso? Não sabia responder. Acho que seu temperamento, definitivamente, não era dos melhores. Mas perfeito ninguém é, e nunca foi. Ela pondera seus atos e se sufoca sozinha, engolindo e disfarçando seu sofrimento, tentando fazer seu sofrimento valer a pena... Tinha uma certeza dentro de si: quando uma porta se fecha, duas se abrem no lugar, e também sabia que o mundo dava voltas, que não ia ser dolorido para todo o sempre. O tempo é um remédio crucial pra curar as dores do coração, da mente, do espírito. Talvez tudo passe, talvez nada se cure. Talvez. Só talvez. Mas de uma coisa ela sabia: estava na hora de amadurecer, nem que para isso precisasse sofrer. Não é a melhor sensação do mundo falar e não ser ouvida, e ela sabia disso muito bem. Não havia sofrimento físico, não passava necessidades, mas perdera a leveza da vida. Já não via tudo com olhar de criança, constantemente apaixonada e constantemente em aprendizado. Seu mundo estava preto e branco. Com nuvens cinzas, pintando o céu inteiro. "Isso vai passar", insistia em repetir, e em voz alta, para não esquecer de ouvir. Algo nela não conseguia olhar para trás. Não conseguia desistir e ceder sua vida ao sofrimento. Não. Ao contrário. Queria sobreviver a tudo isso. Seu barco não iria naufragar, não dessa vez. Pelo menos dessa vez. Perseverança. Tudo passa. E a gente se encontra, mais cedo ou mais tarde.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário