domingo, 11 de outubro de 2015

Desconhecida

Sentada em um banco onde o sol não me beija, olho para o céu e observo os pingos de chuva caírem pesadamente em meu rosto. Nuvens passeiam sem parar por entre o crepúsculo. O sino da catedral bate repetidamente. Pessoas caminham tão rápido quanto a intensidade da chuva. Ele está parado do outro lado da alameda, mas eu não o vejo com clareza. Ele está parado com sua camisa jeans segurando um guarda-chuva negro. Ele me olha fixamente. Eu vou me aproximando, mas nunca o alcanço. Começo a correr, suspirando um suor frio. Meu corpo insiste em estar quente ainda com o clima árido. O contraste é nítido, mas ele não: continua ali, parado em minha direção, mas eu sou incapaz de atingi-lo ou vê-lo. O desespero começa a chegar. Eu olho para os lados e não reconheço nenhum rosto, e todos me olham assustados. Decido parar. Muitas mãos tentam me pegar, inutilmente. Percebo que não estou ali. Mas como me veem? Olho para mim e não me enxergo. Ele começa a caminhar em minha direção, e eu continuo em linha reta. Os sons começam a estar pesados. Vejo-me perdida. Não sei onde estou. Ele vai se aproximando, mas nunca chega. A sensação é singular. Sinto a respiração dele em meu pescoço. Ele também não sabe aonde vai: olhar vazio e mãos vazias. Ele não tem nada para mim. Ele passa através de meu corpo e eu não sinto nada. Giro-me para tentar fazer com que me perceba, mas ele não está mais ali. Já se foi. Uma grande paz toma conta do meu ser. As gotas param de cair do céu e as nuvens dão passagem a algumas estrelas, que aparecem tímidas em um céu meio arroxeado. Percebo que estou derretendo, mas não há o que derreter. Parece que estou voando. Parece que sou feita de ar. Encontro-me leve e sigo mergulhada na imensidão. Noto uma brisa densa adentrando-me. Não estou só. Juntamos nossos ares – o que quer que seja – e seguimos juntos. Um lugar perdido composto de nada, e ao mesmo tempo tudo. Já não vejo nada, já não penso nada. Simplesmente existo uma existência desconhecida.


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