Sentada em um banco onde o sol
não me beija, olho para o céu e observo os pingos de chuva caírem pesadamente
em meu rosto. Nuvens passeiam sem parar por entre o crepúsculo. O sino da
catedral bate repetidamente. Pessoas caminham tão rápido quanto a intensidade
da chuva. Ele está parado do outro lado da alameda, mas eu não o vejo com
clareza. Ele está parado com sua camisa jeans segurando um guarda-chuva negro.
Ele me olha fixamente. Eu vou me aproximando, mas nunca o alcanço. Começo a
correr, suspirando um suor frio. Meu corpo insiste em estar quente ainda com o
clima árido. O contraste é nítido, mas ele não: continua ali, parado em minha
direção, mas eu sou incapaz de atingi-lo ou vê-lo. O desespero começa a chegar.
Eu olho para os lados e não reconheço nenhum rosto, e todos me olham
assustados. Decido parar. Muitas mãos tentam me pegar, inutilmente. Percebo que
não estou ali. Mas como me veem? Olho para mim e não me enxergo. Ele começa a
caminhar em minha direção, e eu continuo em linha reta. Os sons começam a estar
pesados. Vejo-me perdida. Não sei onde estou. Ele vai se aproximando, mas nunca
chega. A sensação é singular. Sinto a respiração dele em meu pescoço. Ele
também não sabe aonde vai: olhar vazio e mãos vazias. Ele não tem nada para
mim. Ele passa através de meu corpo e eu não sinto nada. Giro-me para tentar
fazer com que me perceba, mas ele não está mais ali. Já se foi. Uma grande paz
toma conta do meu ser. As gotas param de cair do céu e as nuvens dão passagem a
algumas estrelas, que aparecem tímidas em um céu meio arroxeado. Percebo que
estou derretendo, mas não há o que derreter. Parece que estou voando. Parece
que sou feita de ar. Encontro-me leve e sigo mergulhada na imensidão. Noto uma
brisa densa adentrando-me. Não estou só. Juntamos nossos ares – o que quer que
seja – e seguimos juntos. Um lugar perdido composto de nada, e ao mesmo tempo
tudo. Já não vejo nada, já não penso nada. Simplesmente existo uma existência desconhecida.
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