“Se não é capaz de melhorar o
silêncio, cale-se”.
Uma vez me disseram essa frase e
ela caiu feito chuva em dia de seca aos meus ouvidos. Eu estava ocupando-me
demais com barulhos desnecessários em uma tentativa inútil de preencher meus
silêncios sufocantes. Mas desde quando ruídos externos serviram para pacificar
alguma alma perturbada? Que eu saiba, nunca. Pelo contrário: esses pandemônios
que criamos só fazem com que nos afastemos de nós mesmos, e todos sabemos o que
se passa quando isso ocorre: a algazarra torna-se tão, mas tão grande, que
somos vomitados do nosso próprio ser e nos sentimos vazios, sem graças, sem
ânimo.
Interpreto essa frase não apenas
no sentido de calar-nos a boca quando não podemos acrescentar algo útil a uma
conversação, mas vejo sua grande significação no sentido abstrato: não joguemos
tumultos no nosso silêncio. Sei muito bem que o silêncio é assustador tão bem
quanto sei que é pacificador. Pra que jogar entulhos no que está perfeitamente
arrumado? E também o contrário: se nossa alma está assim tão tumultuada, qual a
razão para não evocar o silêncio e assistir sua limpeza?
Temo que nossa sociedade cada vez
mais fuja da calmaria. Vivemos em uma era em que quanto maior o agito, melhor,
pois assim temos a desculpa da falta de tempo para resolver o que precisamos e
correr atrás do que nos faz bem. Nosso corpo tem um alarme de fábrica que
sempre indica quando estamos no caminho errado, e é quando soa esse alarme que,
quase sempre, significa que algo está errado. Porém, ao invés de nos retirarmos
um pouco da pulsação insana que é viver, afundamo-nos ainda mais no buraco
negro. E como eu sempre digo, suas atitudes possuem relação direta com seu
estado interior: se por dentro está uma bagunça, a bagunça será feita no
exterior; se está uma confusão, seu entorno estará confuso... E assim por
diante. E quem muito fala – sem ter realmente algo útil a expressar – é por que
está fugindo de seu silêncio. Dessa maneira, é preferível atuar na sua quietude:
ele é um grande palco.
:3
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