quarta-feira, 29 de julho de 2015

"Se não é capaz de melhorar o silêncio, cale-se"

“Se não é capaz de melhorar o silêncio, cale-se”.
Uma vez me disseram essa frase e ela caiu feito chuva em dia de seca aos meus ouvidos. Eu estava ocupando-me demais com barulhos desnecessários em uma tentativa inútil de preencher meus silêncios sufocantes. Mas desde quando ruídos externos serviram para pacificar alguma alma perturbada? Que eu saiba, nunca. Pelo contrário: esses pandemônios que criamos só fazem com que nos afastemos de nós mesmos, e todos sabemos o que se passa quando isso ocorre: a algazarra torna-se tão, mas tão grande, que somos vomitados do nosso próprio ser e nos sentimos vazios, sem graças, sem ânimo.
Interpreto essa frase não apenas no sentido de calar-nos a boca quando não podemos acrescentar algo útil a uma conversação, mas vejo sua grande significação no sentido abstrato: não joguemos tumultos no nosso silêncio. Sei muito bem que o silêncio é assustador tão bem quanto sei que é pacificador. Pra que jogar entulhos no que está perfeitamente arrumado? E também o contrário: se nossa alma está assim tão tumultuada, qual a razão para não evocar o silêncio e assistir sua limpeza?

Temo que nossa sociedade cada vez mais fuja da calmaria. Vivemos em uma era em que quanto maior o agito, melhor, pois assim temos a desculpa da falta de tempo para resolver o que precisamos e correr atrás do que nos faz bem. Nosso corpo tem um alarme de fábrica que sempre indica quando estamos no caminho errado, e é quando soa esse alarme que, quase sempre, significa que algo está errado. Porém, ao invés de nos retirarmos um pouco da pulsação insana que é viver, afundamo-nos ainda mais no buraco negro. E como eu sempre digo, suas atitudes possuem relação direta com seu estado interior: se por dentro está uma bagunça, a bagunça será feita no exterior; se está uma confusão, seu entorno estará confuso... E assim por diante. E quem muito fala – sem ter realmente algo útil a expressar – é por que está fugindo de seu silêncio. Dessa maneira, é preferível atuar na sua quietude: ele é um grande palco.

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